Joana Eleutério
A característica mais marcante de meu percurso estudantil e profissional é a não-linearidade. Isso deu origem a dois aspectos que se destacam quando tento resgatar minhas memórias: uma numerosa mudança de escolas, que às vezes ocorria até mesmo durante o ano letivo; e também um currículo profissional amplo e variado, resultando em uma média baixíssima de permanência em empregos.
O meu curso primário, que corresponde à primeira fase do atual Ensino Fundamental, foi feito em três escolas: numa escola rural - uma experiência semelhante ao antigo pré-primário. Em seguida, passei pelas escolas públicas urbanas: EE “Coronel Praxedes” e EE “Chiquinha Soares”, em Bom Despacho-MG.
Completado o curso primário, preparei-me para o exame de admissão ao curso ginasial (ciclo que corresponde às quatro últimas séries do Ensino Fundamental). Quem me preparou foi uma de minhas irmãs que já era normalista e já lecionava naquela época – ela juntou um grupinho de primos e, com muita competência e amor, conduziu-nos ao ginásio. Esse curso iniciou-se no Instituto NS do Sagrado Coração em Divinópolis-MG (internato), uma escola de freiras onde eu tinha uma bolsa de estudos. Em seguida, voltei para Bom Despacho, minha terra natal, passando pelo Colégio Tiradentes da PMMG, depois para o Ginásio Estadual “Miguel Gontijo”, depois pelo no Colégio Municipal de Belo Horizonte – unidade do bairro Salgado Filho. Mas, novamente no interior, concluí o ginásio no Colégio Industrial de Bom Despacho em 1969.
Em função de uma tradição familiar propriamente, uma vez que em minha família havia muitas professoras, desde algumas tias-avós e até algumas irmãs também professoras, o meu ensino médio foi o magistério. Fui para a Escola Normal Miguel Gontijo – da rede pública, onde fiz apenas o primeiro ano. Em seguida, se não contribuir para a manutenção da enorme família, mas para pelo menos assumir minhas próprias despesas e aliviar a barra de meus pais, mudei-me novamente para Belo Horizonte. Conclui o curso no Instituto de Educação de Minas Gerais – uma das melhores escolas normais do estado, que passou a ser uma faculdade de pedagogia no primeiro momento e, hoje, é uma das unidades da Universidade Estadual de Minas Gerais – UEMG, com diversas unidades na capital e no interior. E foi lá que fiz o curso de Educação Artística também.
No ano de 1972, concluí esse curso e fiquei noiva, casando-me em dezembro de 1973. Eu era funcionária do SERPRO, nesta época. Anteriormente, já tinha trabalhado no comércio: lojas, supermercado, Mesbla Veículos etc. Logo que engravidei e antes de dar a luz a minha filha, Ana Flávia, em junho de 1975, parei de trabalhar fora de casa. Quando ela tinha cinco meses, passei em um concurso para trabalhar na sede da CODEVALE – a extinta Companhia de Desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha, mas não tive coragem de tomar posse e deixar a bebezinha com a empregada.
Quando minha filhinha estava com um ano e meio passei em outro concurso – para a Junta Comercial do Estado de Minas Gerais, onde trabalhei por quase dois anos, mas voltei a ficar em casa por um período de aproximadamente seis anos. Então, fiz concurso para professora do estado, já com o segundo filho com aproximadamente dois anos (tenho apenas um casal de filhos). Contudo, lecionei somente uns três anos porque já estava estudando na UFMG, onde tinha uma bolsa de trabalho na oficina de redação do CENEX – Centro de Extensão da Faculdade de Letras/UFMG e também uma bolsa de iniciação científica em um Projeto de Alfabetização de Adultos.
Em 1989, o que seria o ano de minha formatura, no meio de uma greve das federais, que durou praticamente todo aquele ano, mudei-me para Brasília. Meu ex-marido trabalhava em uma multinacional alemã, que entrou em processo de concordata, gerando atrasos nos pagamentos e nos deixando em dificuldade. Nessa ocasião, fui convidada para trabalhar na rede de Escolas Fisk aqui em Brasília, onde comecei como secretária, depois passei a ser coordenadora, diretora até tornar-me uma franqueada da rede, mas com a outra bandeira da franquia PBF – Pink and Blue Freedom/PBF. Esta foi a experiência mais duradoura de minha trajetória profissional, de 1989 a 2002.
Aqui em Brasília, tive problemas para dar continuidade aos meus estudos. No início, morei em uma casa no Gama, que pertencia à unidade em que desempenhava minha primeira função na FISK. Demorou mais de um ano para que a greve das federais acabasse e eu tivesse a oportunidade de fazer a prova pleiteando a transferência facultativa. Porém, logo que consegui, percebi a enorme dificuldade para assistir às aulas, o que acabaria me levando a abandonar o ensino superior. Na UnB, ainda não tinha curso de Letras no período noturno e como poucas matérias cursadas na UFMG foram aproveitadas, a minha grade ficou maluca, totalmente fora do fluxo. Tinha aulas de 8 às 10 da manhã e depois de 16 ás 18, por exemplo. Mesmo assim, consegui fazer duas disciplinas em um semestre, mas logo desisti de continuar os estudos. Trabalhando e morando no Gama, não era mesmo possível continuar. Já divorciada, acabei priorizando o estudo dos meus filhos. Minha filha já estava formada e pós-graduada em 2004, quando fiz novo vestibular na UnB, para concluir a graduação – Letras/Língua portuguesa e respectivas literaturas em dezembro de 2008.
De 2002, quando passei a franquia para outra pessoa, até 2008, quando fui nomeada no GDF, a minha vida profissional foi um caos. Consegui alguns empreguinhos que não duraram nada – trabalhei no CONCEFET – Conselho Federal dos Centros de Educação Tecnológica e também com um tributarista de São Paulo que estava abrindo uma filial aqui em Brasília. Nesse período, eu me mantive basicamente com algumas aulas particulares de português e redação – reforço para o ensino médio e para estrangeiros.
Eu havia feito o concurso para a SGA/GDF em 2004 e como minha classificação não estava nada boa, não acreditei que seria nomeada. Em 2005, tranquei a UnB e fiquei fora da cidade um pouco mais de um ano. Um pouco mais de dois meses em São Paulo e o resto do tempo em Governador Valadares/MG, trabalhando em uma fundação. Lá, eu atuava como secretária administrativa durante o dia e, à noite, coordenava a unidade do Morro do Querosene, onde também lecionava para o Curso de Formação e Qualificação de Empregadas Domésticas.
No início de agosto de 2006, retornei para Brasília e no mesmo mês fui selecionada para um estágio de revisão de textos da Embrapa Informação Tecnológica. No dia 30 daquele mesmo mês, eu fui nomeada no GDF, mas só tomei conhecimento em agosto de 2007, com um ano de atraso. Entrei com uma ação para tentar resgatar o meu direito, apesar de todos me dizerem que eu não ia conseguir por ter passado tanto tempo. E, realmente, perdemos a ação na primeira instância. A advogada, uma prima, entrou com recurso imediatamente. Na segunda instância, ganhamos por unanimidade – os três desembargadores foram favoráveis ao meu pleito – dando origem a uma jurisprudência nesse assunto. Apesar de o resultado ter saído em maio, só em outubro eu fui renomeada, quando já estávamos providenciando uma segunda ação contra o GDF. Meu tempo de INSS já dá para eu me aposentar, só que o salário vai ficar baixíssimo, então já averbei o tempo para daqui a alguns anos poder me aposentar com um salário um pouco melhor. Além do mais, ainda não consigo me ver aposentada e sinto que ainda posso produzir muito.
Nestes dois anos – de 2006 e 2008 – passei pelas seguintes experiências profissionais: fiz um semestre de estágio na Embrapa e não renovei o contrato porque havia feito um concurso para uma Escola do SESC, onde havia passado em primeiro lugar. Porém, conhecer as entranhas do SESC foi uma enorme decepção. E o pior: tive de fazer uma cirurgia no Hospital Sarah, ficando afastada por quatro meses, voltando ao trabalho ainda fazendo uso de bengala durante seis meses. E foi no período de afastamento é que tomei conhecimento da minha nomeação. As duas primeiras vezes em que vim à gerência de provimento, que funcionava no prédio da Egov, falar com o Ricardo, gerente do setor, eu estava usando muletas – tanto ele como todo pessoal do setor se recordam deste fato até hoje.
Meu tempo no SESC durou apenas um ano e pouquinho. Logo que o pessoal da Embrapa soube, fui convidada para voltar para o estágio e não fiquei sequer 15 dias sem trabalhar. Porém, o estágio foi novamente interrompido quando da minha nomeação no GDF. Minha primeira lotação foi na Diretoria da Folha de Pagamento – DACFP/SEPLAG. Tive o privilégio de ter como chefe, um excelente diretor, que depois passou a ser assessor do secretário. Nesta mesma época, surgiu a oportunidade de compor a força-tarefa das eleições de 2010 no TRE-DF, onde fiquei quase 9 meses, até o início de janeiro deste ano. Eu trabalhava no edifício-sede e tentamos prorrogar o período da cessão, as duas partes estavam interessadas, mas não foi possível. Voltando ao GDF, solicitei minha lotação para a EGOV-DF por acreditar que poderia atuar em áreas correlatas à minha formação. Sem conhecer ninguém na escola, fui muito bem recebida pela nossa diretora, a professora Olga – que também acabava de assumir a função. Creio que fiz uma boa opção e estou muito feliz e esperançosa em relação ao trabalho que poderei realizar aqui. E também oportunidade única de investir em minha formação e qualificação. Gosto muito de estudar e pesquisar e sempre procuro relacionar e elaborar as informações recebidas para então colocar em prática e multiplicar o conhecimento adquirido.
Estou concluindo a pós-graduação Língua Portuguesa/Revisão de Textos no UniCeub, só fala a defesa da monografia que deve ocorrer ainda neste mês. Completo meus 60 anos no dia 24 – dia de São João – de onde se explica a escolha do meu nome. Entrando na melhor idade e fazendo planos profissionais como uma adolescente. Depois de tantas leituras e pesquisas formais e informais, tenho uma boa bagagem que poderá ser muito aproveitada no desempenho de minhas funções, sobretudo na função de facilitadora de aprendizagem de cursos e palestras na EGOV-DF.
No mais, só tenho a dizer “Gracias a la vida que me há dado tanto...” Ou talvez, cantar. Mas não tão bem como Mercedes Sosa.
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