Uma proposta de reflexão
Joana Eleutério
Relacionando alguns trechos pinçados do texto de nossa bibliografia básica – MEMORIAL DE FORMAÇÃO – REGISTRO DE UM PERCURSO, de Ana Lúcia Guedes Pinto e cotejando-os com algumas afirmações de Certeau (2010), vislumbro a possibilidade de criar uma imagem para representar o percurso da construção de um conhecimento coletivo, como a somatória de nossas memórias individuais aqui no curso FFP1 da EGOV-DF, para ser colocado a serviço de muito mais gente daqui da escola, apenas num primeiro momento. Convido-os a seguirem comigo.
"Ao reconstruirmos nossa memória estamos ao mesmo tempo modificando o presente e alterando o futuro. Por essa razão, o trabalho com a memória amplia nosso horizonte de possibilidades, pois ela nos mobiliza e gera novas ações." (p.2)
"O que vale, ao nos debruçarmos sobre as lembranças que vão ficando e sendo registradas, é nos abrirmos e termos sensibilidade para compreendermos os sentidos atribuídos pelos sujeitos a respeito da experiência vivida." (p.2)
"Ao lançarmos então à escrita de um memorial em formação através do qual temos a oportunidade de registrarmos e re-fazermos um percurso específico de nossa vida - nossa formação escolar-acadêmica e profissional - pode ser talvez uma maneira de divisarmos outros finais para a história que está em pleno transcurso..." (p.3)
O brilhante pensador francês, refletindo sobre o tema, diz- nos ainda:
É um princípio da economia: com um mínimo de força, obter o máximo de efeito. [...] A multiplicação dos efeitos pela rarefação dos meios é, por motivos diferentes, a regra que organiza ao mesmo tempo uma arte de fazer e a arte poética do dizer.”
[...]
“A ‘volta’ ou retorno que leva a operação do seu ponto de partida (menos força) até seu termo (mais efeito), implica em primeiro lugar a mediação de um saber, mas um saber que tem por forma a duração de sua aquisição e a coleção intermináveis dos seus conhecimentos particulares. Questão de ‘idade’, dizem os textos: ‘à irreflexão da juventude’ eles opõem ‘a experiência do ancião’. Este saber se faz de muitos momentos e de muitas coisas heterogêneas. Não tem enunciado geral e abstrato, nem lugar próprio. É uma memória cujos conhecimentos não se podem separar dos tempos de sua aquisição e vão desafiando as suas singularidades. Instruída por muitos acontecimentos onde circula sem possuí-los (cada um deles passado, perda de lugar, mas brilho de tempo), ela suputa e prevê também ‘as vias múltiplas do futuro’ combinando as particularidades antecedentes ou possíveis.” [...] Mas a memória continua escondida (não tem lugar que se possa precisar), até o instante em que se revela, no ‘momento oportuno’, de maneira temporal, embora contrária ao ato de se refugiar na duração. O resplendor dessa memória brilha na ocasião. (CERTEAU, Michel de. A INVENÇÃO DO COTIDIANO. 1. Artes de fazer. 15 ed. Petrópolis/RJ: Vozes. 2008, p. 157/158)
Creio que acertamos ao nos escolhermos nessa parceria, Luciana. Sobre o olhar, nem sempre irrefletido da juventude (você) e “a experiência do ancião” (eu), vamos revendo nossas memórias feitas de momentos tão distintos e de uma heterogenia incalculável – uma riqueza surpreendente para produzir a “ruptura instauradora” de Certeau. Assim, cada par, fazendo seu trabalho, vamos oferecendo a singularidade dos detalhes de nossa vida para construir um saber, que poderá vir a ser institucionalizado pela EGOV e multiplicado, compartilhado por todos que forem aderindo a um projeto meio visionário (admito), mas que faz muito sentido, que é dar um final mais feliz para Brasília, para os servidores públicos e para toda a sociedade brasiliense. Boto fé!
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