Esta reflexão foi motivada e inspirada nas contribuições dos colegas do curso no fórum do Módulo V: Elke, Maria Elice, Elaine, Marlene, Iranildes e Kelle e também da leitura do texto sobre o Contrato Didático da nossa bibliografia e de um texto da Universidade de Lisboa sobre a avaliação auto-regulada. Tentei construir um texto para explicitar a reflexão dialógica por que me conduzi para a fundamentação de algumas conclusões que gostaria de compartilhar com os eventuais leitores deste blog.
Realmente “não se pode negar que a sala de aula é um espaço de interação onde se desenvolvem diversos tipos de aprendizagens“. Tal ambiente é um desafio para o posicionamento livre dos conceitos e pré-conceitos sobre os dois sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem. E ambos devem ser considerados sujeitos ativos - protagonistas dessa interação pedagógica. No entanto, o educador nunca pode abrir mão de seu papel de mediador. Nossa colega tem razão: “Nesse contexto, o diálogo assume papel fundamental como elemento norteador para propiciar a construção do conhecimento por meio da troca de experiências e da valorização dos conhecimentos” que circulam na sala de aula, embora a relação assimétrica seja algo inquestionável.
Porém, como afirmou outra colega: “O ponto de equilíbrio entre o ensinar do professor e o aprender do aluno é uma linha extremamente vulnerável.” E, eu acrescentaria, muito tênue também. Gerenciar o paradoxo natural do contrato didático exigirá responsabilidade, atenção e cuidado, por parte do professor, durante todo o tempo.
A proposta deste nosso curso é provocadora, exigindo de nós transitarmos de um lado e do outro, uma vez que somos potenciais formadores e também alunos. Nossa formação depende fundamentalmente da qualidade da nossa relação com o outro – nossos tutores, colegas e futuros alunos.
A proximidade (não-distanciamento) é fundamental, mas não deverá se confundir com a camaradagem que provoque desrespeito ou que descaracterize os papéis específicos dos dois sujeitos – há responsabilidades e expectativas muito específicas, distintas na relação didática em questão. Contudo, também é verdade que “existe uma base afetiva permeando essas relações.”
A qualidade e talvez também a intensidade da aproximação nessa relação dialógica são fundamentais e fornecerão o background e o espaço para a ação adequada, tanto do formador como do formando, viabilizando o sucesso do trabalho pedagógico, preservadas as regras básicas do contrato didático. Como lecionam os autores do texto, a ruptura ocorre no momento em que o sistema de obrigações recíprocas é desrespeitado, somando-se ainda a quebra de confiança entre os participantes do processo.
No texto do autor português sobre as questões inerentes à autoavaliação regulada, que é definida como “um acto de comunicação, de interacção entre pessoas e objectos de avaliação, que ocorre num dado contexto social e é por ele determinado (Leal, 1992)”, percebi algumas dicas importantes relacionadas ao conceito de contrato didático. O autor português esclarece: “Entendemos por regulação da aprendizagem todo o acto intencional que, agindo sobre os mecanismos de aprendizagem, contribua directamente para a progressão e/ou redireccionamento dessa aprendizagem.”. Conceitos como a avaliação formativa; a co-avaliação entre os pares; e a auto-avaliação precisam ser compreendidos e assimilados. O autor enfatiza ainda: “a regulação interactiva, é potencialmente mais promissora porque é uma regulação atempada e se pode tornar mais significativa para o aluno.”. A auto-avaliação passa por um processo consciente de reflexão sobre o que está a fazer e como se está a fazer, o aluno terá de desenvolver a capacidade de auto-questionamento. A apropriação dos critérios de avaliação da tarefa é condição necessária para desenvolver a auto-regulação. Nesse texto, defende-se ainda que “o papel do professor é mais uma vez central, cabendo-lhe a responsabilidade de construir um conjunto diversificado de contextos facilitadores para o desenvolvimento da autoavaliação, tornando-se o aluno cada vez mais autónomo.
Assim, outro aspecto importante discutido pelo autor diz respeito à abordagem positiva do erro, que em um primeiro momento, deve passar pela compreensão da situação. O erro é uma rica fonte de informação para a compreensão de situações de aprendizagem, diz-nos ainda. “O objectivo é que o aluno seja ele próprio capaz de fazer a sua autocorreção, sendo para isso necessário compreender o erro para criar condições para o ultrapassar .” Nesse momento, acontece a verdadeira aprendizagem. O papel de mediador que cabe ao professor implica ajudar e orientar o aluno na interpretação dos significados, na formulação de hipóteses explicativas do raciocínio do aluno. Não podemos nos esquecer de que a autoavaliação passa por um processo consciente de reflexão, fundamental ao sujeito ativo do texto de Pedro Demo, visto por nós anteriormente. Portanto, é fundamental “corresponsabilizar os alunos no processo avaliativo, ajudando-os a apropriarem-se mais facilmente desses mesmos critérios.”.
O autor português citando Perrenoud (1999, p. 96) ainda nos ensina: “Toda a acção educativa só pode estimular o auto-desenvolvimento, a autoaprendizagem, a auto-regulação de um sujeito, modificando o seu meio, entrando em interacção com ele.”.
No texto sobre o contrato didático, vimos que “Essa categoria dinâmica do contrato não pode ser confundida com ruptura, pois ainda permanecem definidos os papéis do professor e do aluno no processo e a confiança mútua não foi abalada.”, uma vez que o professor e o aluno ocupam lugares distintos diante do saber, com graus de responsabilidade diferenciados. E ainda: “o professor, que se coloca como mediador no processo de ensino, em uma perspectiva dialética, percebe que a constituição do sujeito se dá nas relações entre os sujeitos, pois já temos nossa subjetividade, fruto das relações. Assim, o aluno não é mais visto como alguém que está “vazio” e precisa ser “preenchido” por conhecimentos.”.
O objetivo da escola é formar o aluno crítico, tornando-o capaz de analisar informações, tomar posição, questionar suas próprias verdades, decidir e não simplesmente se opor. Enfim, ser capaz de inserir-se ao contexto social, historicamente construído nas diversas relações de interação.
Assim, finalizo a minha reflexão com o ultimo parágrafo do nosso texto do atual módulo:
“Dessa forma, a perturbação do Contrato Didático não consiste simplesmente em propor desafios ao aluno, pois, enquanto estes apenas aumentam o grau de dificuldade dos problemas, a perturbação difere qualitativamente na medida em que está voltada para o gerenciamento das imposições paradoxais do contrato. Ademais, procura reorientar a relação entre professor, saber e aluno, propondo alguns questionamentos, tais como: que aluno queremos formar e para qual sociedade? “
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